Festival de imprudência nas rodovias
O Jornal Diário de Santa Maria traz na sua capa um registro de imprudência que, em época de safra, caminhões tomam conta das estradas e fazem manobras arriscadas, aumentando riscos de acidente:
É fato: a cada nova safra, o fluxo de caminhões aumenta consideravelmente nas rodovias da região. As BRs 158 e 392 são rotas usadas nessa época pelos transportadores que levam suas cargas das regiões Norte e Nordeste até o porto de Rio Grande. O aumento no número desse tipo de veículo exige cuidado redobrado de todos os motoristas que trafegam pelas rodovias (veja quadro). Mas, na prática, o que se vê é um festival de imprudências, que, em muitos casos, acaba resultando em acidentes e mortes.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) não tem dados específicos sobre acidentes envolvendo caminhões e nem o total de infrações, porém, conforme o radar fotográfico, de janeiro a 28 de maio deste ano, 5.116 caminhões (uma média de 34 por dia) foram flagrados por excesso de velocidade nas rodovias federais da região.
Em três dias diferentes, o Diário foi a estradas para ver como os motoristas se comportam com tantos caminhões circulando pelas pistas. Nos dias 3 e 4 de maio, em diferentes horários (no dia 3, das 10h às 11h, e no dia 4, das 8h às 9h), na BR-158, em Itaara, foram poucas as irregularidades. Porém, foi preciso apenas uma hora na BR-392, em Santa Maria, para constatar a impaciência dos condutores, que colocam a própria vida e as de outras pessoas em risco em manobras perigosas. Entre 17h e 18h, no dia 10 de maio, a reportagem registrou 32 flagrantes de irregularidades no trecho do km 346, na localidade do Arenal.
Mas os caminhões não são os únicos problemas nas estradas. No período em que o Diário ficou na margem da BR-392, carros, motos e ônibus foram vistos infringindo a legislação. O trecho em que a equipe ficou é uma subida, no sentido São Sepé-Santa Maria, onde os caminhões carregados costumam reduzir a velocidade. É aí que ocorre a maioria das imprudências. Os carros e motos ignoram a sinalização da pista que indica ultrapassagem proibida e se arriscam na manobra irregular. Além disso, muitos dos caminhões que passaram pelo local foram flagrados trafegando pelo acostamento, o que é proibido pelo Código de Trânsito Brasileiro (veja quadro). Em alguns momentos, chegaram a ficar três veículos perfilados, como se houvesse terceira faixa – que não existe – no lugar.
Paulo Brondani, presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de Santa Maria (Sindisama), diz que a entidade não orienta os motoristas a andarem pelo acostamento:
– É uma questão de solidariedade. Dependendo do acostamento, os caminhões carregados saem da pista para dar lado aos outros veículos que estão trafegando mais rápido.
De acordo com a PRF, se flagrada, a postura incorreta pode resultar em multa de R$ 127,69.
Fluxo – Há cerca de dois meses, está sendo feito transporte de soja para o porto de Rio Grande. Muitos caminhoneiros aproveitam a volta para trazer outras cargas. Segundo o Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de Santa Maria (Sindisama), com a estiagem, houve queda na produção, e o número de caminhões nas estradas caiu de 20% a 30% em relação ao ano passado. Mesmo assim, pelo menos até o fim deste mês, o o fluxo será intenso.
A última pesquisa feita pelo Departamento de Infraestrutura de Transportes (Dnit) para descobrir o volume de tráfego nas rodovias da região foi no começo do mês de maio. O resultado ainda não foi divulgado. O dado anterior é de junho de 2010. À época, em média 7 mil caminhões passavam por dia na BR-392, contando os dois sentidos.
Morte – Não é pelo fato de não terem sido registrados muitos flagrantes na BR-158 que ela é considerada menos perigosa. No dia 14 de maio, o aposentado Luis Carlos Quinhones da Silva, 58 anos, morreu em um acidente provocado por um caminhão, na estrada, em Cruz Alta.
Conforme a PRF do município, o Peugeot 207, em que a vítima estava de carona, seguia no sentido Santa Maria-Cruz Alta, quando teria sido atingido na traseira por um caminhão, que vinha atrás. Com o impacto, o motorista do carro, José Paulo Medeiros da Silva, 30 anos, sobrinho da vítima, perdeu o controle e invadiu a pista contrária, sendo atingido de frente por um outro caminhão, que trafegava no sentido oposto. Um quarto veículo, um Meriva, também se envolveu no acidente e bateu de leve no primeiro caminhão. O sobrinho também ficou ferido, mas sobreviveu ao acidente:
– A gente tenta fazer a nossa parte, mas, infelizmente, muitos caminhoneiros não respeitam os outros veículos e nem as leis de trânsito e acabam causando acidentes e mortes.
LIZIE ANTONELLO*|* COLABOROU LUÍSA KANAAN
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